Helio Contador: "Como nosso cérebro é manipulado nas eleições"
Passado o vendaval das eleições, fica um pouco mais claro entendermos como nosso cérebro é manipulado pelos especialistas em Neurociência que assessoram os candidatos que concorreram às eleições.
Já tive oportunidade de falar sobre diversos gatilhos mentais em artigos anteriores, usados principalmente no mundo corporativo e também no marketing do dia a dia, mas hoje gostaria de ressaltar algumas técnicas que foram utilizadas pelos candidatos à presidência da República e que cativaram seus respectivos eleitores.
Antes de mais nada, vale lembrar que nosso estágio evolutivo atual, como seres humanos, nos qualifica ainda com uma predominância instintiva e emocional, focados na autopreservação e na preservação da espécie.
Medo
Atentos aos perigos que possam atingir nossa sobrevivência, o medo (ou ameaça) é um dos aspectos que foi muito usado pelos candidatos finalistas. Um dizendo que a cesta básica será extinta se votarem no outro candidato, ou seja, você e sua família vão passar fome. O outro então, ressaltando que a insegurança está tão grande que você ou alguém da sua família vai ser assaltado ou tomar um tiro se não colocarmos a polícia com mais armamento, pois os bandidos estão muito à vontade nas ruas (fato)!
Compromisso e coerência
Outro aspecto usado foi o gatilho mental chamado de compromisso e coerência. Os candidatos prometem coisas que vão facilitar sua vida e pedem em troca o compromisso do seu voto. Uma vez aceito, nosso cérebro vai fazer de tudo para mantê-lo, já que foi treinado para cumprir aquilo que foi prometido, mostrando assim uma forma coerente de comportamento perante a sociedade. Mesmo que depois percebamos que não fizemos a melhor escolha, fica difícil reconhecermos e voltarmos atrás numa decisão tomada.
Gamificação
Foi muito usado também o modelo de gamificação, onde os partidos instituíram uma grande competição, um jogo voraz tipo uma final entre Palmeiras e Corinthians, Fla-Flu ou Grenal. Virou uma batalha campal – é vida ou morte! Com isso, ou você está do meu lado ou então é meu inimigo mortal.
Paixão e ódio
Sentimentos de paixão e ódio foram mostrados o tempo todo nas propagandas eleitorais, pois se trata de um gatilho emocional muito forte. Quando nos apaixonamos por algo ou alguém, esse sentimento passa a dominar nosso sistema límbico quase que por completo, inibindo qualquer atuação racional. Isso significa que só vemos as coisas positivas daquele que ganhou nossa paixão, ignorando os defeitos e vícios do passado. Coisas como corrupção, lavagem de dinheiro, mal-uso do dinheiro público, traições e etc. são ignorados pelos fãs desse ou daquele candidato, independente do seu nível social ou intelectual. Por outro lado, nossa mente busca reforçar só os defeitos do inimigo. Não é louco isso?
Empatia
Sem falar do uso da empatia, fundamental para ganhar a confiança dos eleitores. Comer pastel na feira, beijar criancinhas, tomar cafezinho no bar, visitar bairros pobres e se mostrar como uma pessoa que nasceu e cresceu na pobreza são artimanhas para se mostrar “gente como a gente” que entende nossos problemas e sabe como solucioná-los.
Redes sociais
E por fim o uso desenfreado das redes sociais, que se tornou um meio de comunicação e convencimento sem precedentes, devido ao momento atual de dependência que as pessoas se encontram com esse meio de comunicação. A força descomunal mostrada por essa ferramenta surpreendeu a todos e foi fundamental na vitória do presidente eleito. Mostrou também uma grande mudança de paradigmas, principalmente sobre o “poder de influência” da televisão nas nossas vidas. Esse tema é tão importante que será objeto do meu próximo artigo: O grau doentio de intoxicação e dependência das redes sociais.
Poderíamos falar de outros pontos utilizados nas campanhas políticas, mas selecionei aqueles que achei mais importantes para serem citados.
Um abraço e até o próximo artigo. Deixe seu comentário e indique outros assuntos que gostaria que fossem abordados.