Ricardo Amorim: "Inveja da Bolívia?"
Em 1980 cada brasileiro ganhava, em média, 56% mais do que um peruano. Hoje a diferença é só de 14%. Nesse período, todos os ex-presidentes peruanos foram presos, ficaram foragidos ou se suicidaram para evitar a prisão por crimes de corrupção. Em 1980 o brasileiro ganhava, em média, 79% mais que o colombiano. Hoje a diferença é só de 7%. Nesse período, a Colômbia foi abalada por uma dura guerra contra o tráfico de drogas e o terrorismo. Esses dois exemplos deixam claros dois pontos muito importantes. O Brasil não viveu apenas uma década perdida. Há quatro décadas, a economia brasileira patina, com desempenho pior até mesmo que o de nossos vizinhos latino-americanos. Ou seja, há duas gerações, somos um país submergente.
Além disso, ao contrário do que acham muitos, corrupção e violência não são os únicos problemas fundamentais brasileiros que, se resolvidos, garantirão o sucesso do país. Enfrentá-los, obviamente, é fundamental, mas, sem encarar também outros problemas ao menos tão graves quanto, o futuro dos brasileiros não vai mudar significativamente. Países com problemas de corrupção e violência tão graves ou piores que os do Brasil tiveram desempenho econômico bem melhor que o nosso. Fica claro que há outras áreas também muito importantes e que eles têm se saído muito melhor do que nós.
Sem reverter a incompetência na gestão da economia – que frequentemente privilegia regulamentações que o povo acha que o ajuda, mas na realidade o empobrece ao longo do tempo, como a recente suspensão do reajuste dos combustíveis – e combater privilégios dos que se apropriaram do Estado em benefício próprio, o Brasil continuará condenado ao subdesenvolvimento, e os brasileiros, a suas consequências. Sem reduzirmos substancialmente o tamanho do Estado e seu peso sobre o setor privado e melhorarmos nossa educação básica, em breve nós, brasileiros, ficaremos para trás de praticamente todos os nossos primos latino-americanos em termos de renda per capita.
Chilenos, uruguaios, mexicanos e argentinos já ganham mais do que nós. Colombianos e peruanos devem nos ultrapassar nos próximos anos, paraguaios e equatorianos na próxima década, e até bolivianos na década seguinte, mantidas as tendências das últimas décadas. Inveja da Bolívia? É esse o futuro que queremos para nossos filhos e netos?