Helio Contador: "Reaprendendo a aprender"
Então… viver muito significa que você vai precisar trabalhar mais para manter uma vida mais longa, com maiores necessidades de moradia, alimentação, segurança e cuidados para a saúde física e mental, lembrando que o custo dos planos de saúde cresce de uma forma desproporcional em relação aos índices de inflação. Esse foi o tema principal de meu recente artigo “Transição de Carreira”.
Esse “trabalhar mais” significa passar por várias transições profissionais durante a sua vida, seja desde a época de escolher a escola ou a faculdade de formação, seja trabalhando em empresas, seja como empreendedor ou profissional liberal. Mesmo que você seja dono do seu negócio ou trabalhe como um médico, dentista, advogado ou tantas outras profissões que permitem a pessoa ficar eternamente fazendo o que gosta, você terá que se atualizar e se reinventar para acompanhar os desafios da nova era digital. Enquanto na época dos nossos pais o modelo era ter uma única profissão e um bom emprego pela vida inteira, as novas gerações mudam 10, 15 e até 20 vezes de trabalho ou carreira.
A pedido de uma renomada revista de administração escrevi um artigo sobre a “Era da aprendizagem”, ou seja, a arte de “reaprender a aprender”. Isso se tornou necessário pois vamos precisar continuar aprendendo e reaprendendo por um bom tempo!
Passamos por vários momentos críticos na história da evolução humana, mas nunca vivemos um momento tão forte como esse atual onde a necessidade de reciclagem profissional se tornou tão importante e fundamental para as pessoas. Vivemos na era da internet das coisas, da indústria 4.0, num mundo de complexidade, ambiguidade, volatilidade e incertezas.
Esses novos tempos trouxeram um aumento significativo na quantidade de informações que seu cérebro recebe a cada segundo, muito maior do que sua capacidade consciente de entendê-las e absorvê-las. Com isto, fica quase que impossível nos aprofundarmos em algum tema, pois muitos outros já surgiram na nossa frente, ou seja, acabamos vivendo num mundo de superficialidade, onde tudo tem que ser resolvido de forma muito rápida e nem sempre eficiente.
Para piorar um pouco mais as coisas, o perfil e as características dos empregos e profissões estão se alterando drasticamente e as máquinas dotadas de inteligência artificial estão assumindo funções humanas que não se imaginava até bem pouco tempo. Daí surge a necessidade urgente de “reaprender a aprender”, de retomar os estudos, buscar novas capacitações técnicas e de novas competências comportamentais. Existem milhares de desempregados atualmente no Brasil, e por outro lado outras milhares de vagas de emprego que não são preenchidas por falta de pessoal capacitado. Uma ironia do momento em que vivemos.
O modo de reaprender a aprender passa por um novo modelo educacional que foge totalmente do convencional aplicado até agora, que se baseou, principalmente, em memorizar coisas para passar numa prova. O processo de aprendizagem moderno vai muito além da decoreba para a tirar a nota mínima necessária: precisa estimular maneiras de se usar a curiosidade, a inovação e a criatividade para seguir nesse mundo novo de descobertas e desafios. Daí a importância de se usar os conhecimentos da Neurociência em relação ao funcionamento cognitivo do cérebro, no uso adequado da memória, no processo de aprendizado, nas tomadas de decisão e no comportamento e relacionamento humanos.
Hoje sabemos que o nosso cérebro funciona no formato de associação, integração e comparação de informações, ou seja, vamos checar se uma informação nova tem a ver com algo que já está gravado na
memória, alguma coisa já conhecida e experienciada. Por isso, algo que é novo e não faz parte das nossas experiências anteriores pode se tornar estranho e até uma ameaça, pelo medo do desconhecido.
Esse é um dos motivos da nossa resistência em sair da zona de conforto, de mudar as coisas. Se não houver um estímulo forte, algo que possa representar uma ameaça ou que signifique um ganho muito grande, dificilmente nos moveremos. Daí a importância de se mudar a cultura do comodismo natural de seguir os hábitos criados, trocando por um pensamento que se sinta atraído pelo despertar da curiosidade e de pensar fora dos modelos tradicionais. Essa mudança cultural deve começar em casa e nas escolas, estimulando os filhos a usarem a criatividade e aprenderem a fazer perguntas, coisas que não fomos treinados para fazer. Já se vê, há algum tempo, aulas de artes, teatro, música e contato direto com a natureza fazendo parte, cada vez mais, das grades curriculares.
Mais tarde, já numa carreira profissional ou empreendedora, o modelo de busca pela curiosidade e por novidades deve continuar de forma permanente. Entre as competências mais requisitadas atualmente estão a iniciativa e curiosidade de buscar conhecimentos de diferentes fontes, agilidade no aprendizado, além do espírito de realização, relacionamento humano diversificado e empreendedorismo. Se, além de tudo isto, você buscar e conseguir fazer aquilo que gosta, aí sim, é a cereja do bolo.
Um abraço e até o próximo artigo.