Helio Contador: "Um cérebro no Alasca"
Como é possível um ser humano querer viver num lugar em que a natureza se mostra tão hostil para a sobrevivência da nossa espécie? O que há de tão atrativo nessa região? Foi o que tentei descobrir visitando essa cidade e seus arredores.
Tudo se inicia quando muitos cientistas e pesquisadores concordam que há cerca de 100 a 150 mil anos já existiam seres sapiens na região da África Oriental, e que já se pareciam muito conosco. Dali se espalharam para a Península Arábica e depois se expandiram para outros continentes. Imaginem a dificuldade para se chegar nas regiões extremas do planeta, como os polos Norte e Sul, sem nenhum recurso de transporte, vestimentas e alimentação adequados. Depois veio o aprendizado da necessidade, da coragem e da criatividade de se encontrar um jeito de sobreviver ao frio e aos perigos dos animais da região. Já viram o tamanho que pode chegar um urso polar? Talvez o simples fato de imaginar vivendo nessas condições é que me induziram um fascínio em conhecer a região do Alasca. Quer saber mais sobre a origem do ser humano na Terra? Uma boa fonte pode ser o livro Sapiens – Uma breve história da humanidade, escrito por Yuval Noah Harari.
Estudos e pesquisas da vida dos esquimós indígenas que habitaram essa região pela primeira vez revela um povo sofrido e rudimentar, porém com muito respeito à natureza e aos animais. A caça e a pesca, aliadas ao uso da água e das florestas se restringia às necessidades de sobrevivência e reprodução, ou seja, alimentação, luta ou fuga e a da procriação. Uma baleia caçada representava a alimentação de uma aldeia inteira por muitos meses, por isso eles oravam e agradeciam a graça recebida.
Os tempos mudaram, mas a beleza natural daquela região continua fantástica com seus lagos, montanhas e geleiras, com a vida selvagem de seus ursos, alces, coiotes e tantos outros animais da região, completando a beleza de uma fauna e flora sem precedentes. Para quem gosta de peixe então, passar por lá sem comer um salmão ou um halibute é o mesmo que ir à Roma e não ver o Papa. Sem contar a possibilidade de se presenciar o efeito raro e maravilhoso da Aurora Boreal.
Anchorage é uma metrópole desenvolvida, como várias outras cidades dos Estados Unidos fora do Alasca. É um ponto importante da malha ferroviária na região desde o ano de 1.914 e abriga atualmente cerca de dois terços da população do Alasca. Tivemos a oportunidade de visitar várias regiões no entorno de Anchorage, como Eagle River, Wasilla, Eklutna, Talkeetna, Whittier, Kenai Lake e Seward. As estradas estão em ótimas condições de asfalto e sinalização e a paisagem é de tirar o fôlego. Os pontos mais marcantes foram o passeio de barco para visitar uma das geleiras milenares em Portage Glacier e um jantar “nas alturas” literalmente, no vilarejo de Girdwood. O restaurante Seven Glaciers fica no topo de uma das montanhas Alyeska, com um apelo visual indescritível.
Meu objetivo aqui não é escrever um artigo sobre turismo, mas sim mostrar a importância para a saúde do nosso cérebro e dos nossos neurônios a oportunidade de conhecer lugares e culturas novas e diferentes do nosso dia a dia.
O interessante é que, se você ler outros artigos meus, cito várias vezes que a Neurociência comprova que, ainda nos dias de hoje, nosso cérebro é direcionado, na maioria das vezes de forma inconsciente, para decisões que envolvam nossa sobrevivência (caça, luta e fuga) e a perpetuação da espécie (sensualidade, sexo, criança). Só que, aliados às reações instintivas animais que herdamos dos nossos parentes mais próximos na escala evolutiva, os símios, ganhamos também a inteligência estruturada, a fala articulada e o livre arbítrio. Esses novos atributos, por ainda não sabermos usar direito, trouxeram juntos o orgulho, a vaidade, a ganância, a corrupção, a maldade e outras coisas que trazem ainda desconforto e sofrimento à uma vida de qualidade, tanto para as pessoas como para o planeta. Mas, se considerarmos que ainda somos muito jovens na escala evolutiva dos mamíferos, desde os 100 mil anos do Homo Sapiens, temos ainda muito tempo pela frente para desenvolver nossas habilidades para uma vida social mais amorosa e respeitosa.
Acredito, tenho muita fé e esperança, que nossa grande luta por um verdadeiro mundo melhor esteja em resolver essas questões comportamentais humanas, lembrando que somos, antes de mais nada, um animal social e que essa cooperação na vida em sociedade é essencial para a nossa sobrevivência de forma pacífica, organizada e saudável.
Um abraço e até o próximo artigo.