Mariana Minerbo: "Fique em casa"
A situação pela qual estamos passando é muito nova, inesperada e impensável. Mas a história nos mostra que epidemias e pandemias já ocorreram várias vezes ao longo do tempo. O coronavírus não é a primeira. Houve as pestes, as pragas, entre outras doenças pelo mundo, ceifando vidas. Em épocas passadas, como não havia uma base científica, acreditava-se em um castigo divino, porém, a falta de respostas mais convincentes acerca dos fenômenos, fez com que a ciência surgisse, se impusesse e evoluísse.Ainda assim, recebemos um turbilhão de informações a cada momento, sem saber como processar tantos dados, às vezes contraditórios e até falsos.
Enquanto os cientistas buscam incansavelmente vacina, remédios e outras estratégias para enfrentar a disseminação e erradicação do vírus, nos deparamos com novas regras e exigências, tanto objetivas quanto subjetivas. Os aspectos objetivos são muito parecidos para quase todos, levando em conta as diferentes particularidades, jovens, idosos, etc. Entretanto, no que se refere à subjetividade, por mais que pensemos no coletivo, esta é única e sendo assim, a vivência que cada um terá, será diferente.
Temos o conhecimento de que mudanças ocasionam o aparecimento das mais diversas emoções. Aparecem aí, como respostas, formas como cada um de nós lidou com os imprevistos, bons ou não, durante a sua vida, ou seja, há uma reedição da maneira como decodificamos os acontecimentos.
Notamos que tem pessoas que se apavoram, entram em pânico, outros agem como se nada estivesse acontecendo, e tem ainda os que percebem os fatos com cautela, acatam as orientações, procuram lidar com os fatos de uma forma mais ponderada e criativa.
Sem dúvida são inúmeras as novas circunstâncias às quais temos que nos submeter. Basta imaginar, no caso de uma metrópole: quarentena, distanciamento social, o isolamento principalmente dos idosos, o fechamento das empresas e do comércio, o vazio das ruas, a privação do ir e vir, elementos que podem desencadear sensações de desamparo, ansiedade, angústia, ou ainda um desespero relacionado à perda do emprego, ao adoecer, próprio ou de entes queridos. E aquelas famílias que tem que se haver com os filhos de várias idades em casa, aonde os pais precisam de um ambiente condizente com um “home office” e sem poder contar com a ajuda de funcionários e avós? E a propagação incontrolável da doença sem as condições necessárias?
Como lidar com toda essa quantidade de privações e incertezas em âmbito global, com suas notícias mais alarmantes que apaziguadoras?
Obviamente, como não há uma solução e sim reflexões além de algumas práticas que uma vez implementadas, poderão facilitar o dia a dia. Estabelecer uma rotina se torna um apoio que ajuda a nos organizarmos. Quem estiver trabalhando, é importante respeitar horários, buscar atividades físicas, comunicar-se com parentes e amigos, ter paciência com as crianças e sempre questionar as fontes das notícias. Nada é fácil, mas se pensarmos que esta crise coloca à prova a nossa adaptabilidade, a resiliência, a solidariedade, a generosidade, características muitas vezes esquecidas no mundo contemporâneo, temos uma grande chance de sairmos mais fortalecidos deste abalo.
Mariana Minerbo é doutora em psicologia clínica. Estudou a influência do modo de vida contemporâneo e é ainda especializada em atendimento infantil e de adolescentes. Em suas sessões segue a orientação psicanalítica. Calçada das Papoulas, 61, Centro Comercial Alphaville, (11) 4195-1888