Marcio Rachkorsky: "E os chatos? Ficaram ainda mais chato"

Em plena pandemia, investem tempo e energia para infernizar a vida do síndico, do zelador ou de algum pobre vizinho
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Ao longo da quarentena, não canso de elogiar o comportamento dos moradores de condomínios, que cumpriram com louvor a tarefa do confinamento. Vale também exaltar o resgate das boas e velhas práticas de gentileza entre vizinhos, algo que estava esquecido em meio à correria do dia-a-dia. Mas e os chatos de plantão? Posso garantir que, infelizmente, conseguiram ficar mais chatos e ranzinzas ainda e, em plena pandemia, investem tempo para infernizar a vida do síndico, do zelador ou de algum pobre vizinho.

Usando nomes fictícios, vou narrar três casos que cuidei essas semanas: Dona Helena, já famosa no condomínio, resolveu reclamar da água que cai em sua varanda, quando a vizinha molha suas plantas. O tempo está seco e a vizinha de cima, ama cuidar de suas plantinhas. Agora, tem pavor ao regá-las, pois apesar de todo cuidado, bastam algumas gotinhas para o interfone tocar. Dona Helena mandou as fotos dos pingos e exigiu providências. Fui conversar com ela e perguntei: “mas D. Helena, quando chove, sua varanda, que é aberta,  não molha?” Ela respondeu: “claro que sim, mas aí não é por obra da folgada do andar de cima!” Ou seja, ela não se importa com os pingos, mas sim com a vizinha. Prometi conversar com a moça das plantas e recomendar mais cuidado… sinceramente, em plena pandemia, haja paciência.

Sr. Ricardo, o sabichão, sempre se apresenta como especialista em qualquer tema. Mas, agora, resolveu analisar as contas do ano inteiro e seu passatempo preferido é importunar a vida do síndico. Indelicado, manda mensagens fora do horário e apurou diferença de centavos. A pedido do síndico, fui falar com o Sr. Ricardo e logo percebi que era uma questão de vaidade e, por minutos, ficou narrando suas habilidades, sua passagem na controladoria de uma grande empresa e que só queria ajudar. Agradeci o empenho dele e expliquei que o síndico se sentiria mais tranquilo com a contratação de uma auditoria independente, para uma análise mais técnica. O chatonildo logo disse “imagina, não precisamos gastar com auditoria, pois são apenas detalhes, está tudo em ordem…” Conversa encerrada e ele só queria ser o chato da vez!

O que dizer da Amanda, que passa o dia “fiscalizando”, de sua varanda, o movimento da portaria. E obviamente não hesita em interfonar ao porteiro, perguntando “quem são aquelas pessoas  que acabaram de entrar no condomínio”. E, na sequência, vai para o grupo de WhatsApp, falar que viu gente estranha entrando, que pode estar infectada. No caso, eram apenas os novos inquilinos. Ela chega a contar quantas vezes a moça da limpeza entra na sala da administração ou no banheiro, sugerindo que enrola no trabalho, que não tem supervisão. É o fim da picada, uma versão atual da famosa fofoqueira.

Síndicos e gestores: coragem e paciência! Logo isso vai passar. As relações de vizinhança evoluíram bastante, mas os chatos seguiram firmes, apequenados em suas verdades absolutas, manias e arrogância.

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