Bia Garbato: "O mercado tá livre"
Com a quarentena, uma coisa passou a fazer ainda mais sucesso: as compras online. Hoje não nos importa mais onde tem o sapólio mais barato, isso ficou fácil de descobrir. O lance agora é saber qual é o valor mínimo, o custo do frete e o prazo de entrega.
Toda encomenda que eu recebo – devido à minha falta de memória e à quantidade de coisas que eu compro (de abridor de latas a caixinha de som) – nunca lembro o que está no pacote. Toca a campainha e já me dá um frio na barriga. Corro para a porta com a sensação de que é meu aniversário e me mandaram um presente. Abro ansiosamente e descubro que me dei um saco de aspirador. Nem sempre a gente acerta.
Até aprendermos como funciona, batemos muito a cabeça: achei que tinha pedido uma penca de bananas. Veio uma única banana. Comprei quatro cebolas. Vieram 4kg de cebola. Comprei um shampoo, veio um condicionador. Comprei uma blusa que parecia turquesa, era roxa na vida real.
Quando vem algo errado ou um produto com defeito, o presente vira um presente de grego: uma ida aos Correios. E em tempos de pandemia é mesmo um castigo: “tá vendo, não prestou atenção, agora sai de trás dessa tela e vai suar a máscara na fila do Sedex”.
O Mercado Livre me impressiona. Não se acanhe, peça o que quiser. É tipo um Papai Noel virtual. Uma tuba? Tem. Uma Kombi? Claro. A Bíblia sagrada autografada pelos apóstolos? Te juro.
O iFood ficou sob suspeita no começo. Comida transmite? Depois que liberaram até comida japonesa, tem mais moto do que asfalto na rua. Outro dia eu li na traseira de uma delas: comida molecular. O que será isso, meu Deus? Lamentei não ter me dedicado mais às aulas de química.
Eu que amo uma farmácia estou me realizando. Compro sabonete líquido em um dia, cotonetes no outro e sal de fruta no dia seguinte. E não se preocupe com o frete. Frete de site de farmácia costuma ser simplesmente um real.
Gosto tanto da Americanas.com que resolvi me tornar Americanas Mais. Frete grátis para mim. Ser VIP é uma sensação única.
E roupa online? Adoro dar uma garimpada na C&A, entrar na Renner, dar um pulinho na Riachuelo e acabar na Zara. Tudo isso de pijama e creme para olheiras.
Também tem mais uma parte muito legal nisso tudo. Passamos a comprar de produtores locais: frutarias orgânicas, fazendas de gado de pasto, granjas que não usam antibióticos. Só de falar já me sinto melhor.
É gente, o mundo mudou, mas nem tudo foi para pior. Ganhamos rapidez, comodidade, praticidade. E fazer compras sentados no sofá, veio para ficar. Sem contar com a felicidade de ganhar um presente a qualquer momento. Mesmo que seja da gente mesmo.