Waltinho Nascimento: "Anti-iluminismo alviverde"
Comecei e ainda não terminei de ler “Os Caminhos para a Modernidade”, de Gertrude Himmelfarb. No livro, a autora faz um ensaio sobre o Iluminismo e suas faces no Reino Unido, na França e nos Estados Unidos.
De forma bem resumida, no que li até agora, a autora explica que no Iluminismo apareceu a ideia de que se jogarmos luz sobre a razão iremos formar um mundo melhor. A ideia de trazer à tona mais informações (começou com a enciclopédia) faria de nós pessoas melhores – Será? O Google nos melhorou?
O que de fato pode-se dizer é que o Iluminismo não atingiu seu “potencial”. Pelo menos o francês. Por lá, a ideia de se respeitar demais o conhecimento teórico e achar que o conhecimento prático não tem grande valor acabou por levar a França à Revolução.
E isso tudo me veio a cabeça enquanto assistia a Final da Libertadores da América deste ano – ou do ano passado? Já nem sei como me refiro aos campeonatos de 2020 que terminam esse ano.
Mais uma vez o milionário Palmeiras começou com muitas expectativas, passou por um período de turbulência, mas terminou a temporada com conquistas fantásticas para seu torcedor. Teriam os diretores do Palmeiras aprendido com os erros do Iluminismos ao tentarem corrigir os rumos do time? (risos).
Em 2015, o Palmeiras começou o ano com Oswaldo de Oliveira no comando, na expectativa de que um líder teórico pudesse trazer o time de volta ao protagonismo do futebol brasileiro. Mas foi com uma boa dose de prática que Marcelo de Oliveira ajeitou o elenco e terminou o ano campeão da Copa do Brasil, no que pode ser considerado o “turning point” de mais de uma década de sofrimento que o torcedor vinha vivendo até então.
Algo semelhante aconteceu em 2018 quando Roger Machado (o técnico de ideias revolucionárias) iniciou o ano no banco de reservas alviverde. Foi demitido depois de muita pressão e a chegada de Felipão (dava para ser mais prático?) trouxe o tão esperado título do campeonato Brasileiro daquele ano.
Em 2021 (ou 2020?), o cenário se repetiu: o ano começa com Vanderlei Luxemburgo, uma vez prático em tempos longínquos de conquistas, mas já sem saber como transforma-las em realidade há anos. Mas Luxemburgo deixou a prática para se tornar um teórico. Como temos visto desde pelo menos 2009, muito papo e pouco resultado.
Até a chegada de Abel Ferreira. Em apenas 22 jogos sob comando do português, a conquista histórica da Libertadores da América, que como a própria torcida canta, era obsessão.
Como argumentaria Oakeshott: todo conhecimento que importa é simultaneamente teórico e prático. E como disse minha tia – se você se lembra da minha coluna intitulada “Calma, é só Futebol!” – o céu ficou em festa!