As consequências da criança criada sem liberdade
É NORMAL a gente ter medo de que a criança corra riscos. Afinal, é nossa função garantir a segurança de nossos filhos, certo? Por outro lado, o excesso de cuidado está tirando a aventura das brincadeiras infantis e afetando o desenvolvimento dos pequenos. É o que demonstra uma pesquisa realizada por Mariana Brussoni. Professora da University of British Columbia (UBC), no Canadá, ela é um dos maiores nomes em pesquisas sobre a “risky play” (“brincadeira arriscada”). O brincar com riscos, conforme ela descreve, envolve atividades em que as crianças têm um elemento de risco e incerteza. Embora possa parecer contraproducente, esse tipo de brincadeira tem se mostrado vantajoso para o desenvolvimento das crianças. Para explorar a questão da superproteção das crianças e seu impacto no desenvolvimento e aprendizado, a VERO conversou com Isa Minatel, que opinou sobre esse assunto.
ISA MINATEL é psicopedagoga, especialista em Montessori, programação neurolinguística, PNL e coach de família, com mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais e autora dos livros “Crianças Sem Limites” e “Temperamentos Sem Limites”.
VERO – Você concorda com o que demonstra o estudo feito pela pesquisadora Mariana Brussoni?
MINATEL – Sim, estamos vivendo um déficit de natureza, porque as crianças não estão saindo, e acabam ficando estressadas. Está acontecendo. Nós, pais, estamos sempre muito ocupados.
VERO -Na sua opinião, estamos superprotegendo mais os nossos filhos?
MINATEL – Sim, porque antes os problemas de segurança pública eram menores. Creio também que uma parcela disso se deva à quantidade de adultos por criança. Veja, minha avó teve nove filhos. Eram dois adultos para cuidar de nove crianças, não tinha jeito de ser superprotetor. Já eu tenho um filho só. Automaticamente vamos aumentando o nosso controle até chegar a 100%.
VERO – Quais sinais demonstram que você é um pai ou mãe superprotetor?
MINATEL- Se apenas uma pessoa diz que você exagera, ok, mas, se cinco dizem a mesma coisa, é o momento de reavaliar. À medida que a criança vai crescendo, ela também dá sinais. Se for do tipo contestadora, vai dizer: “Poxa, mãe, não posso fazer nada”. Se for tímida, será aquela criança mais retraída, valorizada por ser quietinha.
VERO- Quais as consequências da superproteção para o desenvolvimento infantil?
MINATEL- Ao proteger a criança de todas as situações que oferecem risco de quedas, arranhões, machucados e pancadas, ela pode não avançar no desenvolvimento de competências que fazem a diferença para a felicidade dela, como autoestima, autoconfiança, análise de riscos e tomada de decisões. A criança não se percebe inteligente e capaz quando ouve que é essas coisas. Ela acredita que é inteligente e capaz quando se coloca diante de algo desafiador e consegue o sucesso.
VERO – Quais seriam as estratégias para equilibrara segurança e a autonomia na educação?
MINATEL – Não correr nenhum risco pode ser o maior risco para sua criança. Proporcione para seus filhos experiências em que elas possam gastar mais energia que bateria. Não precisa de muita elaboração. A cozinha, por exemplo, é um lugar da casa com um superpotencial de aprendizagem para as crianças, como calcular as quantidades, conhecer os alimentos, criar a consciência da espera, a paciência, e elas ainda absorvem a ideia de contribuir com a família.