Hélio Contador: "A fragilidade da vida"
Não está fácil pra ninguém, não é? Estamos atordoados com a sequência de fatos, nesse início de ano, que tem levado a vida de muitas pessoas em acidentes que ninguém estava esperando. Começou com o rompimento da barragem de Brumadinho, matando centenas de pessoas, destruindo casas e famílias, sem contar os desaparecidos. Depois veio o incêndio no Centro de Treinamento de base do time do Flamengo, tirando a vida de dezenas de adolescentes, matando seus sonhos de fama e glória no futebol. Mais recentemente, a morte violenta do jornalista Ricardo Boechat, considerado um dos melhores âncoras do jornalismo do nosso país. Além disso, a demorada recuperação da cirurgia do recém empossado presidente da República, trazendo dúvidas e incertezas para o esperançoso futuro do Brasil – confira como nosso cérebro é manipulado nas eleições. Esses fatos, entre outros, trazem a sensação de uma fragilidade no controle da nossa nossa vida e que a qualquer momento tudo pode mudar, sem o nosso consentimento.
Por que será que esses fatos trazem uma crescente comoção nas pessoas? Acontece que nosso cérebro está preparado para agir rapidamente e instintivamente em duas grandes situações ou ameaças: sobrevivência e perpetuação da espécie. Qualquer sinal de perigo ameaçando nossa sobrevivência chama imediatamente nossa atenção e deixa nosso cérebro em estado de alerta, propiciando estados de atenção plena, medo, estresse e ansiedade, com suas consequências no nosso dia a dia. É por isso que os programas na TV de noticiário policial, brigas familiares e desgraças em geral têm tanta audiência.
Pesquisadores da Universidade de Yale descobriram que estados depressivos e estresse crônico podem causar a perda de volume do cérebro, uma condição que contribui para insuficiências emocionais e cognitivas. As descobertas mostram que um tipo de interruptor genético reprime a expressão de genes necessários para a formação de conexões sinápticas entre as células do cérebro, que por sua vez contribuem para a perda de massa cerebral no córtex pré-frontal, podendo trazer consequências cognitivas e emocionais para a nossa vida, a curto, médio e longo prazo.
Esses eventos acabam trazendo uma sensação incômoda de impotência e a consciência que não temos controle algum sobre a vida e a morte, tendo eventualmente como consequência uma tristeza crônica e falta de ânimo para as atividades do dia a dia. Mas tem também um lado positivo, se soubermos aproveitar esses momentos de alerta para uma reflexão sobre o estilo de vida que estamos levando. Perguntas do tipo: estou investindo meu tempo em só buscar novas formas obsessivas de ganhar dinheiro (além do necessário), mesmo que custe minha saúde? Estou equilibrando meu tempo entre trabalho e vida familiar da forma adequada? Minha forma de viver está ajudando outras pessoas? Cuidar da minha saúde mental está entre as metas para 2019?”
Numa palestra recente que ministrei sobre a importância da integração e do equilíbrio entre Corpo-Mente-Espírito, mencionei que na vida atual agitada e sem tempo para nada, esquecemos muitas vezes de cuidar de nós mesmos da maneira apropriada. Existem algumas atitudes e comportamentos que podem ajudar a minimizar um pouco os efeitos nocivos das notícias ruins que invadem nosso cérebro constantemente. Só para mencionar alguns pontos:
Cuidados com o Corpo: que tipo de alimentação estou tendo? Faço exercícios físicos e visito os médicos regularmente? Durmo de forma adequada e suficiente? Qual é a minha moderação para bebidas alcoólicas ou mesmo as drogas (lícitas ou ilícitas?)
Cuidados com a Mente: Pontos tais como auto aceitação, bom humor, relaxamento, família e amizades, a busca de novas habilidades e conhecimentos intelectuais, aprender pedir ajuda quando necessário, auto propiciar momentos de prazer e criatividade fazem parte do meu dia a dia?
Cuidados com o Espírito: como andam meus momentos de prece, exercícios e práticas do perdão e da gratidão? Participo de algum trabalho voluntário de caridade?
A frase: “Mens sana in corpore sano” derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal continua valendo até hoje.
Talvez o melhor antídoto para passarmos por esses momentos de atenção, tensão e tristeza é nos colocarmos na situação de uma felicidade plena possível, buscando fazer o melhor que pudermos, aqui e agora, pois o passado já foi e o futuro ainda nem chegou. O resto não está nas nossas mãos…
Um abraço e até nosso próximo artigo…