Helio Contador: "O cérebro do adolescente na era Covid"
Este bombardeio de notícias tristes e assustadoras que recebemos diariamente está afetando, negativamente, a mente das pessoas. Nenhum de nós tem capacidade mental e emocional para suportar uma carga tão agressiva de notícias desastrosas. Este fato não é somente observado no nosso círculo familiar e social, mas também em estudos e análises científicas.
O jornal Neuroscience News publicou um estudo em que pesquisadores descobriram – utilizando a Inteligência Artificial nos tweets – que as atitudes das pessoas em relação a Covid-19 chegam a ser mais infecciosas que o próprio vírus. A pergunta que fica é: como tudo isso afeta nosso cérebro, em especial o cérebro do adolescente, e que meios podemos utilizar para minimizar estes efeitos? Como já escrevi em artigos anteriores, nosso cérebro atinge sua funcionalidade máxima na faixa dos 20 aos 25 anos de idade, chegando a atingir a maturidade adulta.
Vou recorrer a outro artigo, desta vez publicado no site da Drª Sarah McKay (escrito por D. Pendergast e S. Dobson), que, resumidamente descreve que a fase da adolescência é fundamental para a consolidação do desenvolvimento cerebral e atos de isolamento social, incluindo as aulas online, podem prejudicar as bases futuras das formações sinápticas. A perda de eventos significativos – como formatura, aniversários ou perdas cotidianas mais simples, como esportes rotineiros — podem ter impactos profundos e de longo prazo nos jovens. Estes “rito de passagem” são importantes marcadores culturais e representam as histórias que contamos várias vezes durante nossas vidas, que fortalecem nosso senso de pertencimento.
Mas não é só isso. Nesta fase crucial do desenvolvimento do cérebro adolescente, as bases são estabelecidas por décadas através de suas experiências. Os anos adolescentes, conhecidos como o segundo período sensível de desenvolvimento cerebral, são importantes porque é quando a formação do cérebro ocorre de forma mais consolidada.
Em períodos de expectativas não atendidas, impactos negativos no bem-estar e na felicidade subjetiva são inevitáveis. Isso pode ser visto com o aumento drástico do número de pessoas que buscam o apoio de terapeutas de saúde mental nestes últimos 12 meses.
Qual seria a saída então? Uma alternativa é estimular os jovens a contar histórias (Storytelling). Pesquisas na área da saúde mostram que isso pode ser terapêutico. As pessoas que contam histórias como forma de lidar com traumas ou ansiedades são “encorajadas a trabalhar através de suas experiências e aprofundar sua compreensão do que realmente importa em suas vidas”.
Isso pode desenvolver uma maneira de narrar, compartilhar e fazer sentido de experiência, permitindo assim uma releitura dos eventos, mesmo quando refletem uma pobreza de expectativas. Ajuda também a consolidar as memórias. Momentos como este que vivemos testam nossa fé e esperança no futuro. Como otimista que sou, acredito ainda que vamos aprender grandes lições nesta pandemia, mais duradouras que das outras pestes e guerras que o planeta já enfrentou. Só depende de nós!