Quais os riscos da superproteção infantil?
É NORMAL a gente ter medo de que a criança corra riscos. Afinal, é nossa função garantir a segurança de nossos filhos, certo? Por outro lado, o excesso de cuidado está tirando a aventura das brincadeiras infantis e afetando o desenvolvimento dos pequenos. É o que demonstra uma pesquisa realizada por Mariana Brussoni. Professora da University of British Columbia (UBC), no Canadá, ela é um dos maiores nomes em pesquisas sobre a “risky play” (“brincadeira arriscada”). O brincar com riscos, conforme ela descreve, envolve atividades em que as crianças têm um elemento de risco e incerteza. Embora possa parecer contraproducente, esse tipo de brincadeira tem se mostrado vantajoso para o desenvolvimento das crianças. Para explorar a questão da superproteção das crianças e seu impacto no desenvolvimento e aprendizado, a VERO conversou com Marcos Piangers, que opinou sobre esse assunto.
MARCOS PIANGERS é autor do best-seller O Papai é Pop, que virou filme com Lázaro Ramos e Paolla Oliveira. É uma das maiores referências brasileiras sobre paternidade. Seus vídeos sobre família já alcançaram meio bilhão de visualizações na internet, e seu livro tem mais de 500 mil cópias vendidas no Brasil, em Portugal e na Espanha.
VERO – Você concorda com o que demonstra o estudo feito pela pesquisadora Mariana Brussoni?
PIANGERS -O uso de tecnologia dentro de casa se tornou comum na maioria das famílias nos últimos anos, e traz consequências. Jovens com muitas horas de tela domem pior, se alimentam mal, têm vida social pior e são menos ativos fisicamente. Nas meninas, o uso de redes sociais tem impacto negativo na saúde mental.
VERO – Na sua opinião, estamos superprotegendo mais os nossos filhos?
PIANGERS – O medo da violência urbana e a obsessão parental pelo cuidado constante com os filhos fez surgir o termo “pais helicóptero”, para designar pais que estão sempre observando, ou “pais curling”, para os que querem fazer tudo pelos filhos. São pais que tentam tirar toda frustração da frente dos filhos e acabam criando crianças incapazes. Não à toa, temos índices aumentados de jovens ansiosos e inseguros.
VERO – Quais sinais demonstram que você é um pai ou mãe superprotetor?
PIANGERS – O pai superprotetor não consegue permitir ao filho se frustrar, lidar com os desafios, entender que, para fazer qualquer coisa, precisará se esforçar. Se você não incentiva seu filho a fazer o que ele já consegue fazer sozinho, é um sinal de que está superprotegendo.
VERO – Quais as consequências da superproteção para o desenvolvimento infantil?
PIANGERS – Nossos filhos só serão felizes se permitirmos superarem seus limites. A felicidade só existe com conquistas. As conquistas só existem com esforço. O esforço só existe quando se é incentivado. Pais e educadores precisam estar alinhados na ideia de que o erro e as frustrações são formativos, fortalecedores. Nossos filhos são muito mais fortes do que imaginamos.
VERO – Quais seriam as estratégias para equilibrara segurança e a autonomia na educação?
PIANGERS – Amor abundante não mima uma criança. Mimamos nossos filhos quando queremos protegê-los de tudo. O incentivo constante para que esse jovem voe um pouco mais alto todos os dias é essencial. O ser humano só é feliz quando supera seus desafios.