Telas e redes sociais: crianças e adolescentes em risco?

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7 representantes de escolas de Alphaville explicam sobre o assunto, e a psicopedagoga Isa Minatel propõe soluções efetivas nesta matéria completa

CASOS DE DEPRESSÃO, transtornos psicológicos e episódios de violência em crianças e adolescentes pipocam quase toda semana, para não dizer todos os dias, nos noticiários e no nosso cotidiano. A maior parte dessas histórias compartilha uma causa em comum: a hiperconectividade. O tema tira o sono não somente de pais e mães, mas também de governantes, especialistas em saúde mental e educadores. “Esse assunto está me preocupando muito nos últimos anos, como profissionale como mãe de um adolescente de 13 anos”, afirma a psicopedagoga e colunista da VERO Isa Minatel. Ela foi a nossa fonte de consulta para esta reportagem, bem como sete representantes de escolas de Alphaville que responderam a uma série de perguntas sobre o assunto, que você confere a seguir.

VERO – Quais são as melhores práticas para os pais estabelecerem limites saudáveis para o uso de celulares e redes sociais?

Isa Minatel: “Precisamos estar presentes, ser apoio e abrir o canal de comunicação para acompanhar, guiar e ajudar as crianças nesse desafio novo que é crescer com tamanha exposição e uma vida online que desumaniza. Se os pais só são os chatos do controle, os filhos se afastam e ficam ainda mais vulneráveis, presas fáceis para criminosos digitais e cyberbullying. Então, a ideia é sair do papel de fiscal e assumir a posição de guia dos filhos, determinar juntos as regras e os tempos de uso das telas e se ajudar a cumpri-las. Elevar o nível de consciência da criança ou adolescente sobre os riscos e perigos através de livros, documentários e casos. É preciso observar o tempo de tela, o conteúdo consumido, as pessoas de contato… Tudo precisa ser foco da nossa atenção. Assim como não deixamos uma crianças ozinha no trânsito offline, não devemos deixar no tráfego digital.”

Marco Antônio Xavier, Colégio Anglo Leonardo da Vinci: “É preciso verificar os sites que acessam, as pessoas com quem mantêm contato, monitorar o acesso e controlar o tempo de tela, principalmente na hora de dormir.”

Luciana Paschoal, Anglo Aldeia da Serra: “Os mais novos não têm necessidade de ter celular, tampouco redes sociais. Já os pais de adolescentes devem monitorar histórico de navegação, tempo de uso e, principalmente, o tipo de interação feita com a rede de contatos. Equilíbrio e orientação fazem toda a diferença para que o uso seja saudável.”

Selma Moura, St. Nicholas School: “Em primeiro lugar, é preciso lembrar que os pais têm todo o poder de não dar um celular ou outro equipamento eletrônico ao filho e que devem avaliar a maturidade e a abertura ao diálogo dos filhos antes de fazê-lo. Combinados devem ser feitos entre os pais e os filhos antes da entrega: os pais devem saber as senhas, devem decidir quanto tempo os filhos podem passar por dia usando o equipamento, e para quais propósitos. Instalar filtros de idade e monitoramento, como o Family Link, é imprescindível antes de entregar o equipamento ao filho. E o melhor caminho é sempre manter um diálogo aberto, para conversar sobre o que for visto online pelas crianças.”

VERO – A escola promove alguma forma de educação digital para orientar os alunos sobre o uso responsável das redes sociais? Qual?

Marco Antonio Xavier, Colégio Anglo Leonardo da Vinci: “Nosso colégio promove debates periódicos sobre o tema, e também trabalhamos a conscientização de nossos alunos sobre cyberbullying nas aulas de Projeto de Vida.”

Claudia Siqueira, Escola Castanheiras: “Temos um trabalho focado no uso ético. No ensino médio, tem uma disciplina chamada cidadania digital, que também ajuda os estudantes nessa modelagem de comportamentos pró-sociais e na relação midiática, com espaços validados e reflexivos no uso não só das redes sociais, mas também da tecnologia.

Luciana Paschoal, Anglo Aldeia da Serra: “Promovemos a reflexão sobre o uso consciente dos celulares e das redes sociais nas aulas do projeto socioemocional Líder em Mim. Durante as aulas, os alunos trazem seus pontos, e o professor atua como um mediador.”

Carolina Trivella, Escola Morumbi: “Durante todo o ano letivo, a escola promove palestras para os alunos com profissionais das áreas de direito digital, para que os jovens fiquem informados sobre todas as leis, consequências e formas de proteção no meio digital.”

Selma Moura, St. Nicholas School: “O currículo da escola contempla aulas de PSHE (Personal, Social and Health Education) para discutir temas relativos ao bem-estar dos alunos. Desde bullying e cyberbullying até responsabilidade pessoal e social, os temas estudados preparam as crianças e adolescentes para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais que envolvem – mas não se limitam a – uso ético e responsável da tecnologia. Também temos feito palestras e webinars com as famílias para ampliar a reflexão e orientar a instalar controles parentais nos celulares de seus filhos.”

Danielle Scaccio, Colégio Universitário Alphaville: “Temos parceria com a Google, e nossos alunos do 5º ano participam do projeto Tutor Mirim, conhecem ferramentas e situações que fazem a diferença. No projeto eles têm uma camiseta identificando replicadores do uso de tecnologia consciente. Trazemos palestras sobre o tema com ênfase nos riscos à privacidade, violência e cyberbullying.”

Luciana Petrili, Escola Fernão Gaivota, Maple Bear Alphaville: “Oferecemos aulas de tutoria, com carga horária de 50 minutos semanais, para tratar de assuntos relativos à convivência escolar, princípios morais, bullying, cyberbullying e assuntos variados que acontecem em ambiente virtual. Também promovemos a Semana da Educação Digital, um evento anual, construído pelos alunos com a orientação de professores e coordenação da escola, que tem o propósito de unir pessoas com idades, experiências e expectativas similares em relação ao mundo digital para dialogar sobre seus lados positivos e negativos.”

VERO – Como os pais podem equilibrar a proteção de seus filhos e a concessão de liberdade suficiente para que eles aprendam a gerenciar o uso de tecnologia de forma autônoma?

Isa Minatel: “Autonomia é algo que precisa ser treinado e conquistado. Não podemos confundir privacidade com negligência. Lamentavelmente, quando um adolescente atenta contra a própria vida, ao verificar seu celular, os pais encontram todos os sinais que não conseguiram perceber antes. Então, precisamos caminhar junto dos nossos filhos sempre em busca do equilíbrio: nem soltos demais que não possamos acompanhar, nem presos demais que sintam que não confiamos neles. E orientando sempre.”

Curiosidade sobre o assunto: o governador da Flórida, republicano Ron De Santis, assinou um projeto de lei que proíbe menores de 14 anos de acessar redes sociais. Já jovens de 14 e 15 anos vão precisar do consentimento dos pais para acessar as plataformas. Com aprovação da legislação, as plataformas digitais vão ser obrigadas a encerrar contas de menores de 14 anos e menores de 16 que não obtenham aprovação dos pais.

OS PRINCIPAIS IMPACTOS DO USO EXCESSIVO DE CELULARES E REDES SOCIAIS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Por Isa Minatel

1 – Dificuldade de concentração: muitas crianças e adolescentes têm dificuldade para estudar e ler devido à distração constante proporciona da pela conectividade excessiva.

2 – Problemas de autoestima e imagem corporal: o excesso de comparações com vidas, corpos e performances irreais nas redes sociais pode levar a uma baixa autoestima e uma imagem corporal distorcida.

3- Riscos para a saúde mental: a hiperconectividade está associada a casos de ansiedade, depressão e isolamento social.

4- Dificuldades de comunicação e relacionamentos offline: a falta de interações sociais presenciais pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

5Risco de dependência digital: algumas crianças não conseguem controlar seu tempo online e experimentam sintomas de abstinência quando não estão conectadas.

6- Problemas de sono e desempenho escolar: o excesso de tela pode afetar a qualidade do sono e resultar em um baixo desempenho escolar.

Dica de leitura: A GERAÇÃO ANSIOSA

Para o psicólogo social Jonathan Haidt, estamos diante de uma epidemia de transtornos mentais devido à infância hiperconectada. Seu livro “A Geração Ansiosa”, que será lançado no Brasil em agosto, já é considerado um dos mais explosivos do ano e investiga esse colapso na saúde mental. Jonathan Haidt é Ph.D. em Psicologia pela Universidade da Pensilvânia e leciona no programa de Negócios e Sociedade da NYU Stern School of Business, em Nova York. O autor sugere quatro reformas para uma infância mais saudável na era digital: nada de smartphones antes do 9° ano, nada de redes sociais antes dos 16 anos. nada de celular na escola, muito mais independência, brincar não supervisionado e responsabilidade no mundo real.

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