Wilson Medeiros: "Conselho de administração – de volta para o futuro"
Proteger acionistas de irregularidades nas funções executivas tem sido um papel crescente nos conselhos de administração. Isso inclui a conduta dos acionistas, que costumam ter um olhar imediatista, cobrando resultados “pra ontem”, sem privilegiar a visão a longo prazo. Pelo foco nas conformidades legais, naturalmente em constante evolução, esse olhar para o futuro vem se tornando menos presente.
Diante desse cenário, é preciso mudar o modelo mental, ainda muito associado a padrões antigos, que acompanhavam um certo ritual nas reuniões, pautadas por expectativas de resultados imediatos. Com a velocidade dos modelos de negócios inovados e liderados por tecnologia, é imperativo que a atuação dos conselhos prezem por harmonia, patrulhando o presente, mas sem deixar de estudar os movimentos e caminhos para o futuro.
A efetividade da diligência do conselho está associada a qualidade dos conselheiros e do relacionamento entre eles. A aplicação de seus conhecimentos é quase um dever supremo, ao apoiar a linha executiva na direção de garantir o alinhamento estratégico pré-estabelecido ou contribuir para “recalcular a rota”.
Cabe registar positivamente que os conselhos de administração – com conselheiros independentes –em países como os Estados Unidos, e também no Brasil, vêm cada vez mais reassumindo seu papel de liderança combinado pelo maior nível de imposições legais, entre outras obrigações, levando em conta: conformidade aos padrões de governança, contenções de irregularidades na esfera executiva, bem como serenar a voracidade dos acionistas pela ênfase de resultados em que o “pra ontem” dita o tom.
A crença em concentrar esforços no curto prazo é o mesmo que não usar lente para vista curta, ou seja: triunfar no mercado global e competitivo exige um olhar mais abrangente, para reconhecer tendências e enxergar novos produtos e serviços, impulsionados por tecnologias disruptivas, oriundas de concorrentes, entre outras de mercados emergentes. Leia também: “4 sinais de que o executivo vai fracassar”.
Boa comunicação
Um dos itens sagrados, nas reuniões, é que todo conselheiro deve ter disposição em fazer perguntas difíceis, o que não significa fugir da responsabilidade para captar e mediar questões mais agudas ou críticas. Outra questão extremamente importante a destacar é a boa comunicação, segundo Barbara Hackman Franklin, vigésima nona secretária de comércio dos Estados Unidos e presidente emérita da Associação Nacional de Conselheiros Corporativos, tida como um dos 50 conselheiros corporativos mais influentes dos Estados Unidos.
“O conselho e a empresa precisam fornecer aos acionistas e outros stakeholders informação precisa e no momento certo. Alguns acionistas ficam nervosos quando não sabem exatamente o que está acontecendo ou como foi difícil o processo que levou a uma decisão coletiva. Muitas vezes as coisas fracassam por falta de comunicação adequada”, declarou ela em entrevista a Harvard Business Review.
Entendemos ainda que o Conselho deve incentivar a diretoria a se superar, mesmo quando a situação estiver caminhando bem, desafiando a reagir com criatividade frente a novas ameaças ou quadros adversos. Sugerimos jogar luz no longo prazo e frisar discussões estratégicas e menos táticas, sem perder de vista o entendimento de fatores que possam exigir a redefinição das prioridades ou a adoção de um novo rumo.
Resumindo: se a estratégia estiver sempre na agenda, todos os aspectos poderão ser discutidos — decisões de curto prazo versus decisões de longo prazo, e naturalmente se alguma decisão precisa ser revisada.
O desafio do conselho continuará sendo o de garantir o alinhamento estratégico, preservar a conformidade legal e não deixar de lado seu mantra maior em contribuir para o crescimento e perpetuidade do negócio.