Wilson Medeiros: "Se você quer crescer, pare, pense e repense: estratégia é tudo"
Todo mundo quer vender mais. Aumentar a rentabilidade. Ganhar mais clientes.
Em atividades complementares como mentoria, conselhos de administração, palestras ou conversas informais com empresários e gestores, quando me pedem apoio sobre essas questões, de cara, eu pergunto:
“Se você quer crescer quanto tempo de sua agenda executiva você dedica a pensar sobre o tema?”.
Normalmente um breve silêncio já indica a resposta. Parece simples. Mas pensar é complexo, exige tempo, perfil e capacidade de estar conectado consigo mesmo para estar presente e estabelecer o tamanho do desafio a ser atingido.
Todo ser humano pensa. Mas nem todos de maneira reflexiva. Aí está a diferença e a dica: para “aprender a pensar”, é preciso ir além do pensamento imediato, espontâneo. É fundamental levantar perguntas, se aprofundar, para então refletir sobre esses novos pensamentos e aprender com eles.
O livro “Pense de Novo: O poder de saber o que você não sabe” (ed Sextante, 2021), do psicólogo norte-americano Adam Grant, é um bom começo para sair da zona de conforto. Reconhecido pela revista Fortune como um dos dez pensadores de gestão mais influentes do mundo, o autor nos compara a “sovinas mentais”. Diz que não gostamos de “repensar”, pois isso nos faz questionar crenças e convicções. Daí o pensamento estratégico ser um grande diferencial.
No cotidiano pessoal ou corporativo, tem um monte de gente escutando muito e ouvindo pouco. Ou enxergando muito e vendo quase nada. E não precisamos de nenhuma metodologia sofisticada tipo “NASA” para encontrar soluções para os problemas. A visão muitas vezes está desbalanceada ou enviesada entre o pensamento estratégico e o operacional, em que gestores e líderes se enroscam em atividades burocráticas e processuais.
A palavra estratégia vem do grego “stratos” (exército) e “ago” (liderar, guiar). Representa o pensamento de um líder em campo de batalha. Pensar estrategicamente, afinal, significa dominar o presente, de olho no futuro, mas acima de tudo enxergar a situação de um ângulo que ninguém viu.
Para os negócios, eu usaria a metáfora do jogo de xadrez. Um bom estrategista sabe melhor que ninguém que seus atos geram consequências. Tem a ver com abandonar o piloto automático na tomada das decisões que têm impacto a curto ou longo prazo.
No entanto, percebo ainda um forte caldo cultural que supervaloriza as tarefas operacionais. Viver nos “corres” é visto como bacana. É comum recusar convites de amigos ou familiares para um almoço ou simples café, por falta de tempo na agenda. Mas é justamente nesses encontros que bons insights podem surgir.
Um dos exercícios que me acompanha há anos é olhar previamente a agenda semanal, questionando, um a um, cada compromisso a fim de eliminar reuniões que não requerem minha participação. Pergunto: “Qual será o valor agregado de minha contribuição?”. Acreditem! É comum identificar marcações por simples notificação.
O que busco é ganhar tempo para pensar. Também costumo aplicar uma pequena fórmula, que chamo de metodologia complementar. São duas perguntas, que você pode dividir num papel em duas colunas. A primeira: “O que estou fazendo e que não deveria fazer? “. A segunda: “O que eu deveria fazer que não estou fazendo?”.
A análise das respostas da primeira quase sempre revela que 60 a 70% do tempo é dedicado às atividades operacionais, enquanto o pensamento estratégico fica em segundo plano. O exercício vale também para metas pessoais.
Conta-se que o ex-presidente Barack Obama selecionava as demandas de respostas em sua mesa, distribuindo-as em três caixas: “sim”, “não”, e “vamos discutir”. Esse método simples fazia com que ele otimizasse seu tempo, focando no que era mais importante.
Tomemos como exemplo trágico um case que comoveu o Brasil: o voo do time brasileiro da Chapecoense que caiu em 2016 na região da Colômbia, deixando apenas 6 sobreviventes. O piloto e o copiloto da aeronave ignoraram os dados estratégicos mais óbvios, ao não atentar ao indicador chave: autonomia de voo x consumo de combustível.
O que dizer dos executivos que pilotam grandes fortunas e negócios? Cada empresa é um “Boeing”. Se o olhar estratégico não estiver atento, basta um descuido e a nave sairá da zona de turbulência para o sinistro fatal. Os novos tempos não permitem erros dessa natureza. Eles pedem alto nível de vigilância, como estudo da concorrência, movimentos de mercados, comportamento do cliente, canais de vendas, novas tecnologias.
Por isso, pense bem: estratégia é tudo.